domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ações no IPO do Facebook: Conheça as Dificuldades e os Riscos

Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, durante conferência em San Francisco, na Califórnia (Foto: Kimberly White/Reuters)
Má notícia para os apreciadores da rede social Facebook que têm vontade de reservar uma ação e participar da oferta pública de ações da empresa de Mark Zuckerberg, que pretende captar US$ 5 bilhões: o processo para que um brasileiro consiga reservar e comprar papéis no mercado norte-americano é burocrático, seletivo e não recomendado para pessoas físicas que não tenham intimidade com o mercado de ações, segundo especialistas ouvidos pelo G1.

Isso porque, além do risco habitual do mercado de renda variável, aplicar dinheiro em outro país tem um risco a mais para o bolso do investidor: a variação cambial.



“Aventurar-se no exterior para investimento eu realmente recomendo para quem tenha familiaridade com o tema, principalmente com o mercado acionário. É muito prematuro e precipitado alguém que não tenha experiência no mercado fazer”, alerta o superintendente-executivo de gestão de patrimônio do banco HSBC, Gilberto Poso.


Um dos procedimentos naturais para quem quer comprar uma ação no exterior é abrir uma conta no país onde a ação é ou será negociada, como os Estados Unidos, no caso do Facebook. O caminho mais fácil é procurar um banco ou instituição financeira que já esteja presente no Brasil e no exterior, para facilitar essa "ponte". Esse tipo de serviço só é feito quando o cliente solicita, já que a legislação brasileira não permite que os bancos estimulem investimentos em aplicações de outros países, como explica Poso. "Os bancos não podem fazer promoção deste tipo de investimento. Apenas atender às demandas", diz.

O gerente de operações da Souza Barros Securities, o escritório da corretora em Nova York, Raiko Bikelis, diz que o processo para abrir uma conta no exterior requer entregar muitos documentos, responder muitas perguntas e explicar principalmente a origem comprovada de todo o dinheiro que será remetido ao exterior para ser aplicado.

"O banco vai mandar uma documentação para você, você vai preencher tudo: onde trabalha, onde trabalhou, de onde veio o seu dinheiro. Foi herança? Comprova com documento. Daí você envia, vai para a área de compliance do banco, que vai analisar se faz sentido o que você falou", diz Bikelis.

Segundo Poso, a maior parte da "varredura" pela qual passa um investidor que quer abrir uma conta em outro país tem por objetivo evitar e emissão irregular em operações de lavagem de dinheiro. Por isso, todas as perguntas pretendem checar se o dinheiro tem origem idônea e se as intenções do investidor são lícitas.

"O investidor tem que ser claro e coerente. Gostaria de abrir uma conta para estudar no exterior, e eles perguntam: quando começam as aulas? 'Ah, não sei'. Quero investir, mas quanto? Ah, ainda não sei, mas já queria um cartão de crédito. Isso não funciona. O objetivo tem que ficar claro e coerente", ensina Poso.

Passada a etapa da abertura de conta, a próxima fase é abrir uma conta em uma corretora, que pode ou não estar atrelada a um banco. Cada caso é um caso: mas dá para esperar mais burocracia e diferentes limites de renda mínima exigidas para a aplicação.

Risco da primeira vez
Uma oferta inicial de ações (o chamado IPO) , como é o caso da operação que realizará o Facebook, oferece mais risco do que comprar ações já negociadas no mercado: é a primeira vez que a empresa será "vendida" na bolsa, ainda não se conhece direito as finanças da empresa e, além disso, o preço pelo qual os investidores vão negociar as ações é uma incógnita.

"Sem dúvida o IPO é mais arriscado que comprar ação de uma empresa que já esteja listada na bolsa. Isso porque a empresa só tem o compromisso de divulgar informações sobre sua situação financeira depois que entra no mercado, então não tem histórico constante para analisar", diz.

Câmbio e imposto de renda
Se o interesse em reservar ações do Facebook superou os obstáculos burocráticos, há mais dois fatores que devem ser considerados pelo potencial investidor antes de seguir em frente: a variação do câmbio (a diferença entre o preço pelo qual você compra a moeda estrangeira para mandar para outros país e o preço que você vende a moeda para trazê-la de volta ao Brasil).

É como explica Gilberto Poso, do HSBC: não adianta vender uma ação no exterior por um preço lucrativo e depois perder dinheiro na hora de transformar o dólar em real para trazer para a sua conta nacional. É o chamado risco cambial. "Se ele fez uma operação no exterior, remeteu dinheiro no Brasil a uma determinada taxa de câmbio. Quando ele se desfizer dessa operação vai apurar se teve lucro ou prejuízo", explica. Se comprou o dólar a R$ 1,80 e vendeu a R$ 1,60 para trazer de volta, por exemplo, perdeu dinheiro.

Fora isso, toda a movimentação tem que ser explicada à Receita Federal no Brasil. "O Imnposto de Renda sobre as operações feitas no exterior não é trivial. Recurso remetido do exterior a apuração é responsabilidade do próprio contribuinte, precisa ter um carnê leão", explica Poso.

Segundo Poso, a primeira vez que o dólar é remetido ao exterior para a compra de uma ação incide Imposto de Renda sobre o montante de ganho ou perda com a ação, mais sobre a variação cambial.

Depois que o dinheiro remetido na primeira vez é reinvestido, por exemplo, o Fisco cobra sua fatia apenas sobre o lucro.

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