terça-feira, 2 de outubro de 2012

Facebook - É possível criar amizades verdadeiras pela Internet? Conheça e Saiba

Amizades próximas e distantes existem desde os tempos do filósofo Aristóteles – e são igualmente importantes para nossa vida.
É possível usar a internet e as redes sociais para cultivá-las?

A internet e as redes sociais estão tornando as amizades superficiais? Para responder a essa pergunta, a escritora americana Arlynn Presser, de 51 anos, optou por uma solução radical: conhecer pessoalmente, um a um, todos os seus 325 amigos virtuais.


Ela tomou a decisão ao terminar um casamento de 23 anos, no mesmo momento em que vivia a síndrome de “ninho vazio” – seus dois filhos, Joseph, de 23 anos, e Eastman, de 19, haviam saído de casa para iniciar a vida de adulto. “Eu me senti desconectada de minha família e percebi que dependia de meus amigos do Facebook”, disse Arlynn a ÉPOCA.

“Mas quem eram aquelas pessoas? Seriam amigos de verdade, mesmo que eu não os visse com frequência ou, em alguns casos, sem nunca tê-los conhecido pessoalmente?”. De janeiro a dezembro de 2011, Arlynn deixou a pequena Winnetka, município de 12 mil habitantes no Estado americano de Illinois, e viajou por 51 cidades em 11 países. Em seu périplo, fez 45 voos, encontrou 292 amigos e superou um terrível inimigo interior – Arlynn sofre de um distúrbio de ansiedade que, nos últimos anos, a impedira de sair de casa.

Ela reencontrou colegas dos tempos de escola e conheceu cara a cara seus adversários nos jogos virtuais. Alguns “amigos” não acharam tempo para Arlynn. Um exigiu que ela fosse sozinha a sua casa. Arlynn recusou. No balanço, diz que a experiência foi enriquecedora: “Senti-me muito próxima de algumas pessoas, mas percebi que sempre fica uma distância imposta pela internet”.

Arlynn iluminou um pouco mais sua vida, mas não decifrou o enigma da amizade em tempos de redes sociais. “Virou lugar-comum pensar que a versão virtual das relações é inferior ao correspondente real”, escreveu o filósofo holandês Johnny Hartz Søraker. “Essa percepção, aliada à ideia de que os relacionamentos virtuais substituirão os presenciais, nos leva à conclusão de que devemos concentrar esforços nas amizades reais em vez de procurar substitutas virtuais.”

Essa visão, diz Søraker, professor da Universidade de Twente, não é inteiramente verdadeira. “É preciso considerar a possibilidade de as amizades virtuais suscitarem confiança e espalharem felicidade.”

Os limites da amizade via internet ainda não estão definidos – e são objeto de intensa controvérsia, teórica e prática. Filósofos como Søraker especulam sobre o futuro da amizade e das relações humanas. Pessoas comuns como os 54 milhões de brasileiros inscritos no Facebook se perguntam se aquilo que elas fazem todos os dias, se as horas que dedicam ao trato e à troca com pessoas que nunca olharam nos olhos são apenas uma perversão digital do mais nobre dos afetos humanos. Os amigos do Facebook são desbravadores que responderão, na prática, à pergunta definitiva:

é possível criar amizades verdadeiras pela internet e cultivá-las à distância? Ou, na verdade, as redes sociais estão nos isolando atrás da tela do computador?

Para se aproximar da resposta, é fundamental entender, primeiro, o que é a amizade. Filósofos de várias eras pensaram sobre essa questão vital para todos nós, e, mais recentemente, pesquisadores de áreas diversas tentaram desvendar os mistérios dessa forma primordial de relacionamento. Os resultados dessa reflexão sugerem que existem dois tipos de amizade, a próxima e a distante. Ambos são extremamente importantes para nosso crescimento pessoal. Os amigos próximos são como espelhos – no relacionamento com eles, muitas vezes conflituoso, e na comparação diária que se estabelece, definimos nossa personalidade. Os distantes nos aproximam de outras tribos, interesses e ramos do conhecimento – oxigenam nossa vida.

Num estudo considerado fundamental pelo mundo acadêmico, feito em 1973, o sociólogo americano Mark Granovetter analisou 282 profissionais da cidade de Boston, nos Estados Unidos. Todos haviam mudado de emprego recentemente, por indicação de alguém. Mais da metade dos entrevistados declarou não ver muito mais que uma vez por ano a pessoa que lhe indicara para o novo emprego. Quase 30% afirmaram que haviam encontrado o contato, no máximo, uma vez no ano anterior. Granovetter concluiu que as conexões fortes fazem com que nos limitemos a um mesmo e único círculo social, enquanto os indivíduos com quem temos relações fracas (amigos de amigos ou gente com quem falamos apenas no Facebook) nos conectam a diversos outros grupos. “Quanto menos contatos indiretos alguém tem, mais encapsulado está”, escreveu Granovetter. A pessoa que não cultiva relações indiretas perde a chance de conhecer e de aprofundar-se no mundo de ideias e oportunidades que existe em torno de seu círculo mais amplo de relacionamentos.

O ideal que serve como base para julgarmos a competência de um candidato a amigo verdadeiro foi criado há 300 anos antes de Cristo pelo filósofo grego Aristósteles. Ele dizia que duas pessoas são capazes de nutrir uma amizade verdadeira apenas se forem virtuosas. Ou seja, se desejarem, genuinamente, o bem da outra, sem visar ao benefício próprio. Um amigo de verdade é aquele que consegue decifrar sua intimidade, destacar qualidades e apontar defeitos. É um “cuidar de almas”, como definiu o escritor e ensaísta francês Michel de Montaigne, no século XVI. Montaigne atribuía sua formação intelectual às conversas filosóficas que mantinha com o melhor amigo, o escritor Étienne de La Boétie. “Uma amizade assim requer companheirismo estimulante, ajuda, intimidade, confiança e segurança emocional”, afirma a psicóloga Luciana Karine de Souza, que estudou as relações fraternas entre adultos na Universidade Federal de Minas Gerais.

Esse tipo de amizade aristotélica pode ser representado pela relação entre a atriz Bárbara Paz, de 37 anos, e o ator Raul Barreto, de 53. A amizade deles, que já dura 14 anos, foi primeiro um namoro de dois anos. A paixão acabou, mas o companheirismo ficou. Foi Barreto quem acompanhou Bárbara nas várias cirurgias que ela fez para amenizar as cicatrizes em seu rosto provocadas por um acidente de carro. “Ele é meu conselheiro”, diz Bárbara. “Com ele, não há meias palavras. Só as verdades que muitas vezes não quero escutar.” Bárbara diz que o amigo, às vezes, age como um pai. “Certa vez, combinei de passar duas semanas na Europa com uns amigos e US$ 800 na carteira. Ele me emprestou uma mochila e avisou que o dinheiro não daria. Três dias antes de acabar a viagem, estava em Barcelona e restavam só US$ 30. Liguei para ele. Ele me mandou abrir o fundo da mochila. Encontrei lá US$ 200. Desde o começo, ele sabia que aquilo aconteceria”, diz Bárbara. Hoje, ambos viajam muito, e a internet – no caso deles, o e-mail – é uma ferramenta fundamental para manter a proximidade. “Quando você tem uma relação de intimidade com alguém, a distância passa a ser uma preocupação secundária”, diz Barreto.

São poucas as pessoas que podemos chamar de amigos verdadeiros, e isso independe de estarmos ou não conectados às redes sociais. De acordo com o psicólogo britânico Robin Dunbar, professor da Universidade de Oxford, nosso círculo de amizades mais íntimo não passa de cinco pessoas, incluindo os familiares. Seus estudos se baseiam em pesquisas neurológicas, usando a ressonância magnética, que mostram a capacidade do cérebro humano de se conectar a diferentes pessoas. Dunbar se vale também de estudos históricos, que analisam o tamanho de assentamentos humanos primitivos. Ele concluiu que não conseguimos administrar efetivamente uma rede de amigos com mais de 150 pessoas. “O limite imposto pelo tamanho do cérebro é uma das razões pelas quais não conseguimos ter muitos amigos na vida real, muito menos a infinidade de gente que colecionamos no Facebook”, diz Dunbar. A antropóloga italiana Stefana Broadbent, da Universidade College London, na Inglaterra, estuda a comunicação virtual há 20 anos e chegou a uma conclusão similar à de Dunbar. O usuário de uma rede social pode ter centenas de amigos, mas conversa de forma regular com um grupo que varia de quatro a seis pessoas – número semelhante às amizades mais complexas que as pessoas mantêm na vida real.

São poucas as pessoas que podemos chamar de amigos verdadeiros, e isso independe de estarmos ou não conectados às redes sociais. De acordo com o psicólogo britânico Robin Dunbar, professor da Universidade de Oxford, nosso círculo de amizades mais íntimo não passa de cinco pessoas, incluindo os familiares. Seus estudos se baseiam em pesquisas neurológicas, usando a ressonância magnética, que mostram a capacidade do cérebro humano de se conectar a diferentes pessoas. Dunbar se vale também de estudos históricos, que analisam o tamanho de assentamentos humanos primitivos. Ele concluiu que não conseguimos administrar efetivamente uma rede de amigos com mais de 150 pessoas. “O limite imposto pelo tamanho do cérebro é uma das razões pelas quais não conseguimos ter muitos amigos na vida real, muito menos a infinidade de gente que colecionamos no Facebook”, diz Dunbar. A antropóloga italiana Stefana Broadbent, da Universidade College London, na Inglaterra, estuda a comunicação virtual há 20 anos e chegou a uma conclusão similar à de Dunbar. O usuário de uma rede social pode ter centenas de amigos, mas conversa de forma regular com um grupo que varia de quatro a seis pessoas – número semelhante às amizades mais complexas que as pessoas mantêm na vida real.

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