quinta-feira, 7 de abril de 2011

Redação: As Razões do Fracasso

Por: Paulo Flávio Ledur


Por que tantos vestibulandos e participantes de concursos públicos fracassam na elaboração de redações? Por que profissionais de destaque em diferentes profissões têm dificuldade na elaboração de artigos técnicos ou científicos e até mesmo de simples comunicações? As razões são variadas, denotando a carência de uma ou mais das condições essenciais exigidas do redator, que podem ser assim resumidas:

1. Informação e conhecimento: não se pode escrever, muito menos argumentar, sobre algo que não se conhece. Supre-se essa necessidade lendo jornais, revistas e livros, participando de cursos e palestras, ouvindo noticiários, debatendo e refletindo.

2. Capacidade de pensar: o ato da escrita exige concentração e reflexão antes, durante e até mesmo depois, na avaliação do que se escreveu. Só assim o redator terá o necessário domínio do significado e da estrutura do texto em produção. Sem essa condição, faltarão também idéias capazes de constituir argumentos convincentes, levando ainda à falta de clareza, conexão e ênfase, sem contar os inevitáveis erros relacionados à sintaxe, como pontuação, concordância, regência, crase, entre outros. Para a aquisição desse pré-requisito, a leitura e a prática da escrita são excelentes instrumentos, assim como outras atividades que desenvolvem a capacidade de pensar.

3. Vocabulário básico: a aquisição de um conjunto básico de vocábulos é igualmente condição indispensável para quem pretende escrever. Mais uma vez, a leitura e a constante elaboração de textos são o melhor e mais consistente caminho.

4. Aquisição de automatismos: a prática freqüente é indispensável; é por meio dela que se adquirem os automatismos que nos levam a escrever natural e espontaneamente. Quando um escritor diz escrever de ouvido é porque ele adquiriu os automatismos da escrita, os mesmos que se manifestam no desenvolvimento da fala e de outras habilidades que utilizamos no dia-a-dia. Bom exemplo disso é o internetês: o mesmo jovem que vê na elaboração de textos em padrão culto de linguagem uma barreira quase intransponível, graças ao exercício e à motivação, rapidamente adquire as habilidades requeridas pelo novo padrão de comunicação.

5. Normas gramaticais: escrever de acordo com as normas gramaticais é exigência do padrão culto de linguagem. Alcança-se esse domínio não só pelo seu estudo formal, mas também pela prática constante da escrita e pela leitura freqüente de bons textos. Apesar da vasta abordagem da gramática no ensino formal, as pessoas em geral estão longe de dominá-la, em boa parte porque seu estudo muitas vezes é feito explorando muito a memória e pouco a inteligência, e, o que é pior, fora do texto, como se fosse um estudo-fim, quando deveria ser um estudo-meio, colocado a serviço da comunicação, e não um obstáculo. De que adianta, por exemplo, decorar a lista completa das preposições em ordem alfabética, se diversas delas podem exercer outras funções? Não seria mais inteligente atentar para a função que a preposição exerce na frase?
Como se observa, a conquista das condições necessárias para se atingir bom nível de redação se dá essencialmente na vivência da língua, ou seja, na leitura e no exercício da escrita.
Acrescente-se ainda, por oportuno, que as razões do fracasso nas redações são, em boa parte, as mesmas que impõem a dificuldade na interpretação de textos, tão presente entre os participantes de concursos e, por isso mesmo, tão explorada pelos organizadores de provas; são também as mesmas do analfabetismo funcional, que, segundo pesquisa publicada há alguns anos, atinge 66,7% dos brasileiros

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